sexta-feira, 11 de março de 2011

TRISTEZA


hoje acordei triste, foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava la fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas tarefas para fazer, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou a sentir, como tomar banho, vestir uma roupa, maquilhar. Hoje não foi um dia como os outros, não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia.
Podes dizer anima-te, ou dizer que há pessoas a viver coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), provavelmente vais dizer para eu ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Podes fazer isso porque gostas de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza, nem a minha, nem a tua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente
Cazuza (um cantor) dizia no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Tem dias que não estamos para samba, para rock, para hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é o armazenamento da força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor até que venha a próxima, porque assim somos normais.

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