sábado, 24 de maio de 2014

Senta-te um pouco, pois tenho algo para te dizer.

   A única coisa que não quero que passe por nós, é a vida. Sim, a vida. Sabes porquê? Porque vivemos num mundo que a vê passar. Sei que és demasiado racional para o perceber no dia-a-dia. Sei que simplificas e eu complico. Sei que temos visões distantes acerca do que existe. Mas tenho algo para te dizer. E vais ver que não demora. Verás que quando terminares, apenas atrasaste uma ida ao Facebook, o arrumar dos pratos na cozinha ou simplesmente deixaste a sopa arrefecer. Pouco tempo passou, quando terminares. Mas e quanto da vida já passou por nós?
Afinal, o que vêem as gentes do nosso tempo quando se olham ao espelho? O que vêem elas quando olham para a pessoa com quem partilharam a cama a noite passada? A vida hoje é pensada em função de três coisas: trabalho, dinheiro e reconhecimento. Foram esquecidos valores. O que a vida tinha de melhor já não faz parte do diário de ninguém. As gentes do nosso tempo dizem que evoluíram. Sim, evoluíram. Tanto criaram máquinas que se tornaram como elas. Repara: nascemos, trabalhamos e morremos. As gentes do nosso tempo fazem do trabalho a sua vida ou fazem dele o único meio condutor para a sua felicidade. São mais felizes quanto mais trabalharem, quanto mais receberem ao final do mês. São mais felizes quanto mais reconhecidas forem na sociedade, quanto mais falarem delas e as invejarem. É assim que funciona. Mas porquê? Pergunto-me, porquê? Como eu gostava de ter nascido noutros tempos, sabes? Nos tempos em que não havia telemóveis. Havia cartas. Havia bilhetes. Havia saudade e confiança. Havia mais do que isto. Não gosto dos nossos tempos. Não gosto das nossas gentes. São frias. Vivem para si e não para o outro. Conseguem viver ao lado de alguém apenas porque sim. Não amam. Como conseguem? 

 Porque ser feliz não é ver a vida passar. É passar e ir com ela.
Diz-me. Diz-me como conseguem as gentes dos nossos tempos sentir tudo isto durante anos? Como conseguem magoar-se uma vida, quando sabem que só viverão esta?
De que vale ter uma casa com jardim, um carro preto com grandes estofos, um álbum cheio de fotos à volta do mundo, quando nada é partilhado ? É isso, não vale nada. Por mais maravilhoso que seja o jardim da casa, deixará de ser maravilhoso porque não o podes mostrar àquela pessoa. Por mais incrível que seja o carro preto, deixará de o ser porque não o podes emprestar àquela pessoa. E as fotos? De que vale ires a Nova Iorque se não podes contar o que viste àquela pessoa? Ou se não apareceste nas fotos com ela? Ou se não te espera no aeroporto depois de longas horas de viagem? Não vale nada.
As gentes dos nossos tempos não se importam. Elas só querem uma casa com um jardim maravilhoso, um carro preto com grandes estofos e viajar para Nova Iorque. Desde que haja alguém para as ver, elas vivem assim. Felizes, dizem. Não importa quem dorme na sua cama, não importa a quem dão as mãos ou a quem fazem promessas. As gentes dos nossos tempos são assim.
E já não há cartas, já não há bilhetes, já não há saudade, nem confiança. Hoje tudo é fácil. Hoje tudo é posto numa montra à frente dos nossos olhos. Hoje tudo está à distância de um clique.
Mas sabes o que eu acho? Acho que esse clique aproxima quem está longe, mas afasta quem está perto.
A ti, só peço que não te afastes. Vamos ser diferentes das gentes dos nossos tempos. Vamos viver por alguém. Morrer por alguém. Mandar cartas. Mandar bilhetes. Ter saudade. Ter confiança. Não vamos deixar que a vida passe por nós. Sabes porquê? Porque vivemos num mundo que a vê passar.

Inês

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Obrigada amiga

Mina Soares
Mina Soares

"Quero meus amigos de verdade sempre perto.
Minha família sempre ao lado.
Gente boa me rondando.
O resto eu não quero.
Gente que suga, que só quer,
que não sabe ouvir, que tem inveja,
que não sabe rir de si mesma.
Não quero isso na minha vida.
Eu quero claridade, entende?
Gente clara, transparente.
Que pisa na bola, mas entende,
volta atrás, se assume."


Clarissa Corrêa